domingo, 20 de agosto de 2017

#5 Lirismos: O Cântico da Terra – Cora Coralina

Postagem: Eric Silva
Em homenagem aos 128 anos de nascimento de Cora Coralina

Eu sou a terra, eu sou a vida.
Do meu barro primeiro veio o homem.
De mim veio a mulher e veio o amor.
Veio a árvore, veio a fonte.
Vem o fruto e vem a flor.

Eu sou a fonte original de toda vida.
Sou o chão que se prende à tua casa.
Sou a telha da coberta de teu lar.
A mina constante de teu poço.
Sou a espiga generosa de teu gado
e certeza tranquila ao teu esforço.
Sou a razão de tua vida.
De mim vieste pela mão do Criador,
e a mim tu voltarás no fim da lida.
Só em mim acharás descanso e Paz.

Eu sou a grande Mãe Universal.
Tua filha, tua noiva e desposada.
A mulher e o ventre que fecundas.
Sou a gleba, a gestação, eu sou o amor.

A ti, ó lavrador, tudo quanto é meu.
Teu arado, tua foice, teu machado.
O berço pequenino de teu filho.
O algodão de tua veste
e o pão de tua casa.

E um dia bem distante
a mim tu voltarás.
E no canteiro materno de meu seio
tranqüilo dormirás.

Plantemos a roça.
Lavremos a gleba.
Cuidemos do ninho,
do gado e da tulha.
Fartura teremos
e donos de sítio
felizes seremos.


Sobre o autor

Cora Coralina é o pseudônimo de Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, poetisa e contista brasileira. Nascida na Cidade de Goiás, no dia 20 de agosto de 1889, Cora Coralina faleceu em Goiânia, no dia 10 de abril de 1985 quando tinha 95 anos de idade. É considerada uma importante escritora brasileira, mas só teve seu primeiro livro publicado em 1965 quando já tinha quase 76 anos de idade. Durante sua vida trabalhou como doceira e compunha suas poesias enquanto trabalhava. Mulher simples, sua obra se caracteriza pela poética rica em temas cotidianos do interior do país.








Poema extraído do livro Poemas dos becos de Goiás e estórias mais, publicado em 1997, pela editora Global.





segunda-feira, 14 de agosto de 2017

#4 Lirismos: Tudo, todos e o todo – Carlos Rodrigues Brandão

Postagem: Eric Silva

Somos feitos de barro e de fogo
e por isso somos o desejo e o amor.
Fomos feitos de terra e de água
e assim somos eternos como a vida
e somos passageiros como a flor.
Somos a luz, a sombra, o clarão, a escuridão
a memória de deus, a história e a poesia.
Somos o espaço e o tempo, a casa e a janela
e a noite e o dia, e o sol e o céu e o chão.

Somos o silêncio e o som da vida.
O estudo, a lembrança e o esquecimento.
Somos o medo e o abandono.
A espera somos nós e somos a esperança.
Pois não somos mais e nem menos do que tudo.
Somos o perene e o momento, a pedra e o vento
a energia e a paz, a vida criada e o criador.

Somos o mundo que sente, e irmãos da vida
somos a aventura de ser vida e sentimento.
E assim em cada ave que voa há nossa alma
e em cada ave que morre, a nossa dor.



Sobre o autor

Carlos Rodrigues Brandão nasceu no Rio de Janeiro. É psicólogo, mestre em antropologia e doutor em ciências sociais e divide sua produção escrita entre a área científica e a literatura, tendo publicado mais de oitenta obras. Recebeu o Prêmio Poesia-Liberdade pela Fundação Centro Alceu Amoroso Lima, entre várias outras condecorações por seu trabalho científico. É professor emérito da Universidade Federal de Uberlândia e pesquisador do CNPq.








Poema extraído do livro O Jardim de Todos, publicado em 2007, pela editora Autores Associados.





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